Como uma coisa tão pequena, pode fazer tanto estrago. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, e direcionou seus olhos para sua mão branca e delicada, que agora estava machucada, com uma bolha pequena, mas que doía absurdamente.
Escutou o ranger da porta abrindo-se preguiçosamente, levantou seus olhos e lá estava ela, sua amiga, Raquel, que sempre insistia em bater na porta, mesmo sabendo que para Lívia portas não existiam.
- Que fez na mão? Perguntou, dirigindo seus olhos a mão de Lívia.
- Sei lá, acho que expus minha mão a algo não muito agradável. Quando me dei conta, minha mão estava assim, já passei pomada para ver se melhora.
- E está melhor?
- Sim, melhorou o aspecto.
- Não sua mão. Estou falando de ti guria, teu coração como anda, hein? Espero que melhor do que ontem.
Lívia olhou-a de soslaio e levantou-se. Pronto, pensou. Como iria falar para ela que estava apaixonada pelo mesmo menino que Raquel guardava um grande sentimento. Já tinha levado essa mentira longe demais, não existia esse tal de Roberto, na realidade, ele não passava de um nome da lista telefônica. Ok, decidiu que iria falar tudo, de uma vez só, porque talvez assim ela escutaria sem interferir e o baque seria mais leve e suave, do que falar pausadamente.
- Bem... Tudo está igual. Não posso me aproximar dele, por causa daquela menina que te falei.
Um longo e desconfortante silêncio deitou-se sobre o quarto, deixando-o frio, e tão parecido com um lugar desconhecido e inseguro.
- Eu sei. - Disse Raquel - Sei direitinho quem é ela, eu a vejo todos os dias, e converso com ela sempre. E vou lhe dizer uma coisa, que ela sempre quis te dizer, mas por achar que iria te machucar ela sempre guardou para ela.
Rachel esperou. Esperou Lívia acordar ou sair do transe de achar que ela sabia realmente que Rachel conhecia a menina. E então falou alto e declarado:
- Aquela menina me disse que nunca de forma alguma, esperava que você Lívia Samanta Borges fosse capaz de se apaixonar por ele. Ela disse Lívia, que cada segundo que ela passa ao seu lado é um pouco angustiante, ela disse pra mim, olhando nos meus olhos, que está profundamente magoada com você, mas que não irá te deixar nunca.
Ouvindo isso Lívia levantou seus olhos transbordando de lágrimas, e singelamente respondeu com um fio de voz:
- Rachel, eu nunca, nunca em toda minha vida, me vi numa situação dessas. Eu... Eu, no começo achava que era brincadeira do meu coração, mas com o passar do tempo, e com você sempre vindo me falar dele, e ele me cercando e puxando assunto, tentado se aproximar, me observando. Tudo isso criou essa situação. Mas olha te digo uma coisa, eu não quero por nossa amizade em risco, como você fez á um ano atrás, eu não quero perder você novamente, e fico feliz por saber que você não irá me deixar como eu o fiz aquela época.
Lívia falou cada palavra com os olhos fixos nos de Rachel, que carregava em seu rosto a velha expressão que ambas conheciam muito bem. Novamente tinham se apaixonado pelo mesmo menino, e novamente a amizade de anos, estava por um fio.
- Lívia, eu acho melhor a gente se distanciar dele então, porque se você lembra direitinho do nosso passado, essa seria a melhor opção. Ou então fique feliz.
- Como assim feliz Rachel?!
- Feliz por que eu vou me mudar.
Eram palavras novas. Principalmente para a menina morena de pele branca, que tanto tinha lutado para manter viva a amizade delas duas:
- Mas como assim? Você não me disse nada, não me contou isso! Por quê???
- Por que achei melhor.
- Mas e como vamos nos ver? Conversar? Ah sim, você não se mudará para muito longe não é?
- Vou me mudar para outra cidade a 450 km daqui, e quero continuar sendo sua amiga, e tendo as mesmas conversas, e te enviarei fotos, e tudo será normal.
- Você irá quando?
- Já fui. Ontem eu levei meus pertences, e vim hoje me despedir de você.
Lívia ficou sem palavras, só sentiu Rachel lhe abraçar, e sair. Toda aquela cena estava muitíssimo estranha, Rachel nunca, em toda sua vida, havia se comportado dessa forma, mas decidiu esquecer, e pensar que era tudo coisa da sua cabeça, e tudo estava normal.
Passado uns dias, Lívia ligou para Rachel, que nem imaginava que ela tinha seu telefone:
- Alô - Disse um homem do outro lado da linha, um homem que Lívia conhecia muito bem.
- Alô - Disse ele novamente - Quem está falando?
Não. Não. Não. Era ele. Ela sabia como era sua respiração, sentia até seu cheiro, e via perante seus olhos o sorriso mais lindo do mundo. Rachel mais uma vez ganhara, lhe tirara mais um alguém especial, como fazia com todos, e fez com todos os que Lívia um dia achou amar. Tomou-os sem pedir, levou-os sem contar, mentiu sem ao menos se importar com o resto de confiança que Lívia ainda preservava. Ela nunca tinha mudado, e nunca iria mudar, tudo o que Rachel lhe prometera, fora jogado fora.
Então Lívia chorou. Chorou da forma mais assustadora que se pode imaginar, mas com o passar dos segundos entendeu, que Rachel sempre tivera inveja de tudo que fora seu, e que agora, mesmo tendo ele em suas mãos, ela um dia iria voltar. Porque não vivia sem Lívia, não sabia como ser, não sabia com agir, não sabia viver.
Nossos olhos não enxergam, quando o coração insiste em dizer que tem razão, mesmo não a tendo.
lindoo
ResponderExcluirdiferente
de personalidadde
ÀS vezes não enxergamos como as pessoa são por dentro
ResponderExcluirAmeii essa postagem