domingo, 19 de setembro de 2010

Marcas


Queria poder não fazer isso, queria pelo menos por um momento - aquele momento -, não ter sentimentos. Queria ser fria e gélida, arrogante, insuportávelmente sarcástica e insensível. Porque talvez assim, dessa forma eu conseguisse não ser como sou.
Aprisionei meu choro, há muito tempo, sinto todos os dias o gosto dele em minha garganta, tenho medo que um dia a prisão já não mais funcione, e realmente acho que esse dia chegou. Não suporto mais, segurar lágrimas e dores, que tatuaram em mim o sofrimento. Acho que meus olhos começam a arder, ficam nitidamente vermelhos, e eu quero esconder. Esconder de não sei quem, esconder não sei porque, mas eu quero que ninguém me veja assim, em prantos por não conseguir entender o que eu realmente sinto.
Talvez eu tente esconder de mim, por que eu sei que não poderia estar derramando lágrimas por algo assim, por que eu sei que sou forte, muito forte, porém minha fragilidade está a flor da pele, e minha sensibilidade fala mais alto. Eu tento esconder de mim, por que sei que minha consciência me acusa, ela me lembra toda hora, todo segundo "não faça mais isso novamente, você já o fez demais, por tantos outros e ele não vai ser mais um que lhe fará sofrer". Mas nunca ouvi minha consciência, porque nunca ouço quem diz a verdade, assim tento aprisionar meu choro, reprimir minhas lágrimas, que agora transbordam por meus olhos, e eu sei, sinto, e sei e sempre vou saber, porque nunca vou esquecer que isso irá me deixar marcas, a marca da dor, da angústia e do medo, do enorme medo, que eu já conheço muito, muitissímo bem. O medo de sofrer por amor.

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